Como lidar com a pressão de ser tudo para todos e ainda cuidar da saúde mental de forma realista.
Em um dia comum, a nossa rotina se transformou em: acordar, hábitos de higiene, preparar um café da manhã, interagir rapidamente com o/a companheiro/a, talvez levar os/as filhos/as na escola para depois buscá-los, ir e voltar do trabalho, musculação ou outra atividade, voltar para casa, preparar as coisas para o dia seguinte e talvez, finalmente, dormir algumas poucas horas. Mesmo uma mulher dedicada ao lar, tem sua lista de atividades diárias incessantes. Cada vez mais, a rotina se transformou em um aglomerado de atividades sem pausas. Com o ritmo frenético, pode-se não sentir bem, um mal-estar “repentino”. O motivo pode ser uma dor de cabeça, cólica ou até mesmo aquilo que não se entende muito bem. Deixa-se para depois, porque o tempo está milimetricamente contado para não se atrasar.
O corpo sinaliza que precisa ser notado, em relação ao que ele precisa. Às vezes, é um simples sinal de alerta, mas também pode ser um alerta vermelho. Isso faz com que ele seja a dimensão mais concreta das nossas emoções. É nele que se expressa toda a complexidade e possibilidade de compreensão sobre a nossa afetividade. O corpo é afetado por elogios, críticas, alegrias, tristezas, entre outros momentos. Ele nos coloca em relação com as outras pessoas e ambientes. Em uma rotina controlada, o corpo é silenciado, ao ponto de que seus alertas de transformarem em ruídos permanentes, mas inaudíveis.
Quando isso acontece, só nota, quando algo “tira do eixo” e requer a nossa total atenção. Um exemplo disso, é uma falta de ar repentina e o coração acelerado, que nos mostra como é difícil respirar. Puxa-se o ar e não é o suficiente. Às vezes, o que se nota é aquele desânimo que não passa jamais e só tem vontade de ficar fechada em um quarto escuro. Esses sinais são bem evidentes no corpo, mas requer um suporte profissional para discernimento do que está acontecendo com a gente. Ufa! Finalmente, a gente tem um suporte e não precisa suportar tudo.
Em minha prática clínica com pacientes com transtornos mentais graves e persistentes, eu acolhia o sofrimento de várias mulheres, que não encontravam compreensão em suas famílias, amizades ou em lugares de apoio. Elas queriam ser escutadas e amparadas, quando a sua rotina não as permitia isso. Obviamente, o corpo delas já deu todos os alertas possíveis, mas foi silenciado por alguma atividade ou remédio para aliviar a dor. A tentativa de fala surge com um choro, um silêncio acompanhado de uma respiração mais profunda ou até mesmo um olhar vazio, sem conexão, ao dizer sobre algum trauma. O mais interessante é o poder da fala e da expressão como uma ferramenta terapêutica.
A afetividade humana é uma rede complexa, em que envolve aspectos biológicos, sociais, culturais e ambientais. Isso requer uma contextualização sobre algumas perguntas básicas: “-Como eu me sinto?”, “-Como eu me vejo?”, “-Algo me incomoda e eu consigo mudar (ou não)?”, “- Quanto tempo sinto isso?”. Na correria do dia a dia, essas perguntas escapam e o que resta é a indefinição. A angústia assume o lugar da indefinição, mas algo está acontecendo ali. Desde os casos mais graves aos casos mais leves, essas perguntas norteiam os profissionais para a compreensão da queixa.
Saúde mental não se restringe a uma hora de terapia ou tomar religiosamente a medicação psiquiátrica. Saúde mental envolve contexto em que a pessoa está inserida e toda a sua dinâmica. Isso é necessário para a compreensão dos estímulos que suscitam sinais, sintomas e padrões de comportamentos. O que isso quer dizer? O que faz a gente sofrer? Como aquela situação rotineira afeta negativamente ou positivamente? Compreender o que gera mal-estar é uma pista do que pode ser modificado, mas também é necessário a compreensão daquilo que faz bem. Novamente, o corpo sinaliza alternativas para bem-estar momentâneo. Logo, aperte o freio na rotina e se observe mais! Em casos agudos, procure um profissional de saúde mental ou serviços de saúde pública para acompanhamento.

Ana Lacerda é psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua nas áreas de saúde mental e políticas públicas, com experiência voltada para os processos psicossociais. Além de sua atuação profissional, também trabalha como docente no ensino superior, contribuindo para a formação crítica e humanizada de novos profissionais da Psicologia.

Os 5 elementos
Série: Conexão
Artista: Eloisa Ferreira
Tamanho: 60 x 100cm
Técnica: Acrílica sobre tela
Descrição da obra: Os Cinco Elementos I é uma obra que nos ajuda a compreender e a conectar nossas energias com as do Universo, harmonizando nosso Ser… Cada elemento possui características únicas e está associado a diferentes aspectos e fases da vida e da natureza. Ao compreender e conectar aos Cinco Elementos, podemos promover a saúde física, emocional, espiritual e mental, visando o bem-estar e a harmonia em nossa vida.

